O essencial é invisível aos olhos: uma conversa que conecta a engenharia com O Pequeno Príncipe
Ao comprar um apartamento novo, poucas pessoas percebem que os elementos mais importantes de uma edificação não estão à vista. Estamos falando de aspectos como fundação, estruturação da laje, vedação e, claro, o projeto de construção da fachada.
Para falar desse tema - que impacta diretamente na qualidade de vida dos moradores - conversamos com Paulo Sérgio da Silva, engenheiro civil e proprietário da Planville, especializada em projetos de fachada de empreendimentos. Paulo, que recentemente lançou o livro de poesias Engenharia Marginal, é um grande entusiasta da obra O Pequeno Príncipe - tanto que possui 137 exemplares diferentes, de edições publicadas em todo o mundo.
Tomando por base passagens inspiradoras desse grande clássico da literatura mundial, o engenheiro discute aspectos essenciais da assistência técnica, da carreira do profissional de engenharia e do segmento de modo geral. Abaixo você confere os principais trechos dessa gostosa entrevista.
Qual é a importância da assistência técnica de um empreendimento?
Assistência técnica é o cisne negro do lago da construtora, pois trata com o cliente que já investiu na empresa. É um repatriador do cliente e é um indicador de quão saudável financeiramente é o prédio construído. É preocupação em entender a causa do problema, para conter e não reproduzir em outro empreendimento.
O que é “engenharia marginal”, conceito que você utiliza no nome do seu livro?
Logo que me formei engenheiro me aproximei do livro O Pequeno Príncipe. Foi meu livro de cabeceira. Durante a faculdade a gente para de dançar, cantar, para de sentir, entra em um processo massificante. O essencial da vida é quando você busca o valor de alguma coisa. E isso eu aplico na engenharia, é a engenharia marginal. Tenho procurado tocar no coração da engenharia, e tenho conseguido bons resultados.
O que é o coração da engenharia?
Gosto da frase do Santiago Calatrava: “a arquitetura só alça seus altos voos graças ao rigor e à precisão da engenharia”. O coração da engenharia é ser rigorosa e precisa. A gente monta projetos, constrói com matérias-primas naturais em canteiro a céu aberto, é fiscalizada por pessoas, e por isso a engenharia não é robotizada. É uma grande artesã.
O que é necessário para atingir esse coração?
A maior parte dos engenheiros entra na engenharia muito cedo. Eu entrei com 17 anos, que é uma fase de formação de caráter. Eu, que achei que trabalharia na parte de cálculo, caí na indústria cerâmica, e me apaixonei pelo azulejo. Tive que entender como fabrica, como lidar com ele na casa do cliente, tive que me especializar e ler. Essa é a "minha rosa", semelhante à rosa do Pequeno Príncipe, a qual ele venerava, dedicava uma grande atenção.
Tem muitos engenheiros que não entram no mercado de trabalho, ficam se perpetuando em cursos. Tendem a criar aquela atmosfera doentia que o Pequeno Príncipe tinha com a rosa, de colocá-la em uma redoma, pois tinha medo que o carneiro a devorasse. Se você também transforma engenharia em obsessão, você não vai buscar outros mundos. Tem que dedicar tempo à engenharia, mas não da forma que se transforme em uma obsessão.
O Pequeno Príncipe conheceu outros mundos, visitou asteroides e planetas. Em que planeta estamos vivendo e não enxergamos?
Cada mundo tem seus dilemas. O mundo do Pequeno Príncipe era pequeno. Quando você percebe que tem que enfrentar sua realidade, sente necessidade de visitar outros mundos. No meu mundo, vivo o mundo da cerâmica, da fachada, e também existe o mundo do planeta da argamassa, do rejunte, da inspeção predial.
O quanto é importante o network entre os engenheiros, entre as próprias empresas de construção?
O cálculo talvez seja a culpa da frieza atribuída à engenharia, frieza que torna a engenharia muito fechada. Não temos tanta participação em bloco na vida pública do país, como a medicina e o direito, e isso é bom para os profissionais, é bom para a sustentação da profissão.
Ainda d’O Pequeno Príncipe: “Os homens não tem mais tempo para coisa alguma. Compram tudo pronto”. Existe engenharia pronta?
Infelizmente, sim. Mas qual a qualidade de uma engenharia comprada? Eu, como venho do lado lúdico, percebo cada obra como rara, em que cada pedreiro é único, cada local é único. Até a maneira em que eu adenso o concreto em Campo Grande pode não ser a mesma que em Porto Alegre, em Curitiba.
Há uma grande busca em mercantilizar a engenharia. Existem muitos projetos CRLT-C CRLT+V, que vão sendo copiados. Inclusive a gente vê aberrações, em que o projeto é replicado em diferentes cidades e a insolação fica invertida.
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“Durante muito tempo, tu não tivestes outra distração senão a doçura do pôr do sol.” Isso se aplica à engenharia? Nos distraímos e esquecemos de fazer algumas coisas básicas?
A grande questão é ter a visão correta, o invisível aos olhos. Afinal, não se percebe mais o que é essencial. O essencial é entender os indivíduos que estão lá. Se o indivíduo não entender aquilo, o que é essencial, como vai fazer aquilo? O treinamento, treinar para que o indivíduo entenda, é ensinar o que é essencial. Por exemplo, numa junta de dilatação de fachadas, ensinar para que ele não faça o que é feito por aí, como colocar belo porcelanato e a argamassa toda mal-desmanchada e preenchida por trás.
A ética na engenharia é fazer o que é correto? Ou é uma questão de moralidade?
A ética, na filosofia, está relacionada a como você trata a si mesmo, a seus valores. Uma grande tristeza na engenharia é a indústria de laudos, porque se critica colegas de forma irresponsável. Se diz que a fachada é mal projetada sem ter examinado nenhum projeto, nem arquitetônico nem estrutural da edificação. Lançam verdadeiros laudos sem pedir histórico de manutenção de um prédio de 15 anos. Essa falta de ética da engenharia existe.
Deixe uma mensagem final para quem nos lê.
É muito importante olhar nos olhos e não esquecer do lúdico. Tecnicamente, pode se ter os melhores profissionais do mercado, é tudo questão de preço. Mas ter as melhores pessoas é só dando valor a elas e conhecendo-as com o tempo.
Gostou dessa conversa que costura o universo da engenharia com o universo lúdico e poético d'O Pequeno Príncipe? Então confira o quarto episódio do podcast Viver em Equilíbrio, com Paulo Sérgio da Silva.
Nele, o engenheiro civil e proprietário da Planville, empresa especializada em projetos de fachada, fala mais sobre o tema e outros assuntos relacionados à engenharia, tudo conectado com passagens inspiradoras dessa grande obra mundial.
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Sabia que tanto o Gran Solare e o Trebbiano, importantes lançamentos da Equilíbrio em Curitiba, contam com projeto de fachada da Planville, um dos maiores especialistas do Paraná nesse aspecto da edificação?
Para saber mais sobre esses dois empreendimentos, visite o decorado e surpreenda-se.
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